Música Autoral, Independente e Pop Rock Progressivo Instrumental


quarta-feira, 10 de março de 2010

Grito Rock - A tourne



Sintetizar uma experiencia tão múltipla e intensa como a turnê das Aeromoças pelos gritos Rock do estado de São Paulo é uma tarefa que dificilmente será realizada com o sucesso desejado, mas espero que essa tentativa seja no mínimo interessante.

Em 2008 participamos de dois Gritos: em São Carlos e na capital, substituindo de ultima hora o Plano Próximo na livraria da esquina. Naqueles tempos, quando a banda tinha só um ano e ainda mal tinha saído de sanca, foi uma experiência muito rica, fizemos um show no Armazém que considerei a melhor apresentação por muito tempo e foi um marco no amadurecimento da banda. Além disso sentimos o primeiro gostinho de festival, entrando em contato com outras bandas -como o Narcotic Love- e inclusive hospedando algumas na Cremosita. Na época fiquei tão animado com a experiência que escrevi um texto no blog do myspace (ô coisa mal feita...) que acho (e espero) que ninguém leu..


Ali começamos a entender os festivais, aquele bombardeio de pessoas, idéias e principalmente músicas novas. Depois disso participamos de outros, como o CONTATO , o Interunesp MPB o Macondo Circus (nossa primeira e inesquecível experiência fora do estado) além do ABC do Som em janeiro, aonde não conseguimos tocar graças a caprichos de São Pedro.

Já sabíamos como os festivais eram realmente uma experiencia especial, a brodagem entre as bandas, o carinho e a dedicação dos produtores e todo aquele contato com uma pá de pessoa que você nunca imaginou conhecer e que viram novos velhos amigos em questão de horas... Se um festival comum é assim, imagina passear por várias cidades em um festival integrado realizado em 70 cidades, das quais visitamos um décimo: em menos de três semanas parece que vivemos um ano...


A viagem

Todo moleque que já pensou talvez quem sabe montar uma banda e tocar rock sonha com a estrada. E cada filme que eu via, biografia que eu lia alimentava mais esse sonho de me enfiar em algum meio de transporte com instrumentos e alguns amigos para tocar por aí.

Na sexta feira (dia 12) enchemos o Massa-móvel numero 2 (Celtinha preto) com nossas tranqueiras e fomos para Bauru, com uma pequena passagem em Araraquara. Chegando lá facilmente encontramos a República central “aquela alí!!! Com a bandeira do Timão na janela!” casa muito parecida com a cremosita e sede temporária do enxame coletivo aonde fomos muito bem recebidos, com até bolo de coração.

De bauru, depois de um show quente (literalmente ) e talvez alcoólico demais uma dormidinha para pegar a van (Do seu Lenildo) junto dos Almight Devildogs (viagem cada vez mais com cara de tourne) de lá pra Sorocaba.


Na cidade progresso, além de visitar muito rápido a minha avó, comecei a perceber como cada Grito é um grito. Em um espaço lindo, muito cheio e com uma estrutura que contava até com luzes que cozinhava bateristas fizemos um show não tão empolgado e quente porém mais preciso, bem tocado e a vontade apesar mesmo com o insuportável adolescente-emo-de-porre que invadia o palco


Parecia que a experiência da Sexta-feira, já fazia do show de Sábado uma evolução. De Sorocaba a van tocou para São Carlos aonde dormimos e partimos para Araraquara.

No meio do belo jardim da Kruppa a “formiguinha no bumbum” característica da galera do Colmeia Cultural contaminou a todos com uma energia muito forte fazendo daquele grito rock uma grande bagunça (no ótimo sentido) De lá pra casa.

Grito Rock São Carlos. Palcão na estação, shows cheios, Armazém lotado. Acho que é mais difícil falar do “nosso” grito rock, mas foi muito bom, e o nosso show (no conforto do lar, com o Julinho na técnica)já refletia o amadurecimento da estrada além de contar com o flash mob muito loco organizado de ultima hora pelo G.U.T.I.

Quarta-feira de cinzas eu dormi. Quinta e sexta esperando Sábado, mais uma vez embarcar na van (agora a do Batata) com os Almight Devildogs. Bandeirantes levando rock instrumental ao velho oeste paulista: público grande porém assustado com aquela barulheira sem voz, sem muita reação durante os shows, mas cativados (CDs vendidos, muita gente vindo trocar idéia e elogiar – Ta lá!). E volta pra casa, viagem longa, dormindo mal na van ninados por Lenny Killmister.

Domingo saímos de sanca a bordo do Massa móvel 1 (berlingo) para Serrana. Cidadezinha depois de Ribeirão Preto, palco de um movimento único e inspirador de ativismo cultural. O parquinho, espaço abandonado da FEPASA,é ocupado a 15 anos pelo sindicato do rock (que virou o CECAC Centro de Cultura e Ativismo Caipira) na base da garra e da coragem, mudando a cara da cidade.. A “Molecada sem Tutela” fez uma festa contagiante, dançando, gritando e interagindo em todos os shows e dando uma puta injeção de ânimo para os visitantes Sanca, Franca, Araraquara e São José dos Campos.

Mas antes disso...: CAIU O ULTIMO INVICTO DO ROCK CAIPIRA: derrubamos o time do CECAC e levamos pra casa uniformes do carandiru.

De volta pra casa, uma semaninha de folga e pra confecção das camisetas e CDs da ATR. Abrindo um parenteses na tour Grito Rock fizemos uma participação no Jornal local da EPTV ( divulgando o festival macacada que ocupou pela primeira vez o campus dois da USP com varias bandas, uma puta estrutura e um público animadíssimo. Quanto mais viagens, mais especial é nossa casa, e tocar em casa. Tentamos mostrar para o nosso público como a estrada mudou as Aeromoças e fizemos um show muito a vontade.

Vale do paraíba: ATR, Os Rélpis e G.U.T.I. no “busão da alegria”. Tocaríamos em Jacareí e São José dos Campos mas um problema inesperado cancelou Jacareí. Acabamos tendo o sábado de folga, apenas assistimos os shows, mas antes tivemos uma pequena reunião com Pablo Capilé, estimulando e esclarecendo a todos sobre o CFE, o momento da música e o nosso trabalho dentro disso.

Depois de recuperar as energias na casa do Jovem e conhecer a encantadora Juliana (sua irmazinha), voltamos ao Hocus Pocus, pra mais uma reunião com Capilé (dessa vez mais focada nas bandas e no tal do “Artista igual Pedreiro”) e outra bateria de shows.

No Hocus Pocus, o ultimo show da tour, para mim o melhor de todos, claro resultado de todo o crescimento que essas andanças geraram em cada um de nós como pessoas e músicos e que o grupo teve como banda.


As pessoas

Crescimento pela troca: Nada mais importante e transformador com o contato com tantas pessoas diferentes e dispostas a dividir suas experiencias e opiniões. Seja por dias, ou por alguns minutos, cada pessoa que cruza seu caminho se torna parte de você e permite que você se torne um ser em constante transformação.

Com aqueles que acabaram fazendo parte da nossa família grito rock esse movimento é ainda mais interessante. A cada vez que os reencontrávamos, eram diferentes , e nós também, fazendo com que as trocas continuassem, e se tornassem mais ricas ainda pela intimidade que ia se formando. Novos velhos amigos não é apenas forma de expressão, é exatamente a relação que formou com essas pessoas que revíamos toda semana, todo dia, toda hora.

Em Bauru já dava pra sacar: Mal entramos na Republica central era tanta empolgada, trabalhando, contando histórias e rindo que acho que demorei uma semana pra saber o nome de todo mundo (se é que sei). Alguns viraram praticamente aeromoças, como o Gordinho, que levou ao pé da letra o conceito Babá de artista, fazendo de tudo e mais um pouco pra deixar agente a vontade. A Mineira e os Almight Devildogs viraram parte da trupe, viajando com agente pra todo lado O Luccas e seu bom humor infinito que presenteou-nos com um sensacional nome de música. Só Gabriel que não conta (porque já é velho velho amigo). Além dos bauruenses, ainda tinha os paraenses do Juca Culatra (a maior figura do Grito rock, sempre sorrindo e com ele mesmo estampado na camiseta)

Em Sorocaba já foi diferente, se em bauru eram 13, 14, 15 fazendo rolar a parada, lá eram dois ou três que estavam ao mesmo tempo (não duvide) no bar, na técnica e conversando com as bandas. Sempre animados mesmo levando nas costas um evento para quase mil pessoas. Se não deu tempo pra trocar uma idéia mais descontraída, ficou a admiração, e outras oportunidades virão.

Em Araraquara já sabíamos que seria celebração, os contatos já estavam abertos e os colméias culturais viraram irmãos. Tanto que semanas depois todos já eram uma coisa só no “busão da alegria”.

Em São Carlos juntou todo mundo, agora era agente que tava recebendo. Era muito bom ter os velhos amigos em casa! Pudemos mostrar pra eles e pra uma outra galera que se unia à família que estávamos na mesma sintonia: re-conhece-los e nos re-conhecer novamente.

Em Araçatuba eramos perigosos forasteiros, mas mesmo assim conseguimos quebrar o bloqueio e descobrir um público curioso, um dono de bar empolgado e determinado a por a cidade na rota. Além de todo o pessoal do bar, muito simpáticos e felizes com tudo aquilo.

Em serrana além de toda a galera do CECAC movida a sanduíche de soja, musica independente e provavelmente baterias Alcalinas. Pudemos reencontrar ( e orgulhosamente contar do nosso 10 a 7) os Araraquarenses e os Francanenses além de agregar alguns de São José dos Campos.

Agora já tínhamos família em todo canto do estado. E pro vale do paraíba ainda levamos alguns parentes de longe: Os pernambucanos da Banda de Joseph Tourton. Chegando no Hocus Pocus, mais uma vez nos sentíamos em casa, mesmo sem ter pisado lá.

Tivemos duas reuniões, além de conversas aqui e ali, tudo muito intenso para que entendermos os princípios e a filosofia do Fora do Eixo. Agora era muito fácil, a rede já existia nessa grande família. “Do it toghether” fazia todo o sentido do mundo depois de tudo aquilo.


Os quitutes

Trabalho, discussões, shows, risadas e algumas (tá bom, várias) cervejas pediam sempre aquela pausa estratégica. Toda cidade tem suas comidas típicas (não necessáriamente no sentido mais “folclórico” da palavra) e todo grupo tem algum lugar com a “melhor qualquer coisa” pra mostrar praquele que vem de fora. Mesmo se não tem, sempre fomos (os aeromoças) caçadores de tranqueiras tradicionais para matar a fome, então além das pessoas maravilhosas, conhecemos outras maravilhas (ou as vezes nem tanto) que não da pra não citar.

Os salgados fresquinhos do Carlão (bauru) e os caldos de São José dos Campos com certeza foram os que mais marcaram. Mas houveram muitas outras pizzas, sanduíches e salgados, além daqueles que não comemos e ficaram só na imaginação, como os sanduíches de soja de Serrana e São José dos Campos e a tal do almoço mineiro de Araraquara que não deu tempo de pegarmos.


Os Sons!

Nada dessa bagunça inesquecível existiria se não fosse pela musica, música boa.

Fico feliz de perceber tanta variedade entre os artistas dessa cena. Por exemplo, só em São Carlos, tivemos dentre os melhores shows Os Rélpis (Rock Tropicalista), Nevilton (Pop Rock), Juca Culatra (Dub Reggae) e o Lepitospirose (Punk Rock Hardcore) que quase fez o publico demolir o Armazém com a podrera mais bem tocada e divertida que já ouvi na minha vida.

É um privilégio poder em três semanas ouvir 20, 30 bandas, todas de qualidade. Algumas me impressionaram outras não me empolgaram tanto, mas ficar olhando ali, vendo aquela virada de bateria que eu poderia chupinhar no próximo show, aquele timbre que vira conversa no bar no outro dia, ou aquela letra que exige a ajuda do brother do lado para que possamos decorar para cantar na volta.

Além disso, pudemos ver alguns shows várias vezes. Conhecer e re-conhecer Eu serei a hiena que parte do Hardcore para criar um rock instrumental que foge a padrões do estilo. Ver dois shows “Nevilton” antes que eles virem estrelas nacionais. Ver sei lá quantos shows dos Almighty Devildogs até cantar as músicas (instrumentais) junto. Decorar as letras e deixar-se conquistar pelos Relpis.

Além desses me chamaram muito a atenção: o garage-rock experimental do Bonequinho (Bauru), a irreverencia do Seminal (São Paulo), a paulera poética do Vandaluz(Patos de Minas) e a maluquice meio Loki do Tuizim (Franca) são os que lembro agora. Não é ideal só enumerar infinitamente e buscando variar adjetivos pra minimamente representar o que é cada banda, mas fazer uma pequena resenha de cada um foge do espaço e da minha capacidade, portanto aos interessados “google it!”.

Mas felizmente terei uma nova chance, em uma nova tour (quem sabe com texto(s) melhor(es)): Apartir de 18 de março Tour Minas-São Paulo Aeromoças e Tenistas Russas e Porcas Borboletas



2 comentários:

  1. Nilo, meus parabéns. Me reconheci no seu texto, principalmente porque várias das coisas que você disse me ocorreram para escrever a minha versão dessa tour. Eu, como acompanhante apenas, vendo o outro lado disso tudo, e totalmente presente nesse rolê. Adorei demais fazer parte disso e também fiz novos velhos amigos. Que seja assim, sempre. Na real, cada vez melhor. Um beijo grande, velho amigo.

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  2. Suzana A.B.março 20, 2010

    Nilão!

    Mandou bem no texto !!!
    Dá pra sentir a tour, os coletivos e a viagem (também interna!) de vocês como banda!

    Beijo enorme =)

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